Cães
latindo
Homens
trabalhando
Furiosas
máquinas que gritam e rosnam
A
realidade morde o pé do poeta
Em
meio à balbúrdia
Do
dia a dia
Disposta
a derreter
Versos
que imploram
E
que ele esculpia
Tem
o poeta o direito
De
fugir e se ausentar?
De
restar em seu leito perfeito
Proteger-se
do mundo a desabar?
Como
se a realidade fosse um defeito
Levar
a vida a sonhar?
O
poeta sabe
Sempre
haverá algo
Que
o oprima
Imposições
da sociedade
Entregam
ao poeta
Meia
verdade, meia rima
Realidade
distorcida
Página
já preenchida
Mal
lida e relida
Mas,
se ele repara bem
Lê
com atenção
E
vê
O
poder a foder
O
povo sem tesão
A
ausência do poeta
Pode
não ser fuga
Reescrever
a página que o subjuga
É
tomada de posição
Realidade
inventada
Ou
Realidade
real
A
escolha é do poeta
Não
o leve a mal
Como
quiser
Ou
puder
Depende
da escolha
Da
necessidade
Do
clima
Ou
do que exige a rima
O
poeta pertence ao mundo que o cerca
Mas
gosta de se esconder
Fugir
para universos
Mais
silenciosos
Mais
amorosos
Que
atraiam inspiradas musas
Sempre
tímidas e reclusas
Teme
o poeta que a realidade
Tão
ruidosa, tão raivosa
Só
atraia a medusa
E
suas górgonas irmãs
Que
transformem versos em pedra
Triste
poesia obtusa
De
rimas malsãs
Meu
bom poeta não tema
Na
realidade serpenteia o espanto
Matéria-mãe
do poema
Capture-o
Em
uma página em branco
Decore-o
com um tanto
De
real ou de encanto
A
vida transborda versos
Que
afogam
O
poeta em agonia
A
realidade
Esta
cadela vadia
Rosna,
late e morde poesia
Na
primeira notícia do dia
(03/03/17)