quinta-feira, 2 de março de 2017

Cores do paraíso perdido


Cada animal
Traz seu próprio mundo
No olhar
Essa é uma conclusão
Mais física e biológica
Do que filosófica

Nós humanos
Por exemplo
Vemos coisas belas
E terríveis
É o mundo que nos cabe
Mas não é o mundo inteiro
É a metade de um copo meio cheio

A natureza e as cores
De Matisse, Van Gogh
E de Maria Condado
Não são o mundo
São mais que o mundo
São desejos e memórias
São menos que o mundo
Porque nunca o saberemos

Cores são frequências de ondas
O mundo não é o mundo
Como o vemos
Apenas é o mundo que vemos
E dele concluímos
Uma representação
Como fazem
Com artísticas intenções
Matisse, Van Gogh
E Maria Condado

E as cores que não vemos?
E os sons que não ouvimos?
As partículas que nos atravessam
Sem sequer sentirmos?
O que nos trazem?
De que mundo são
Senão deste que vivemos
Mas não o sabemos?

Você
Que lê este poema
Sabe do que ele é feito?
Que partículas
Físicas, filosóficas e metafóricas
O compõem?
De que mundo ele vem?
De que mundo vêm você e o poeta?

Talvez para nós
Que nos encontramos neste poema
Ou nas telas
De Matisse, Van Gogh
Ou Maria Condado
Não importe o mundo
De onde as coisas vêm

Se nosso mundo
Não é o que sonhamos
Nós o representamos
Nós nos representamos
Em mundos tão estranhos

Se de fora ou de dentro
Caídos de paraísos perdidos
Não importa de quais antros
Próximos estaremos
Se acreditarmos
Que vida e arte
São encontros
Diferentes frequências de ondas
Compondo a mesma pintura
A nos encantar
Mesmo que cada qual
Traga seu próprio mundo
No olhar

            (02/03/17)


Obra de Maria Condado, no livro Hortus

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