domingo, 15 de janeiro de 2017

A atriz e o presidente

Vivem de mentiras
Que fazem parecer verdades
Decoram bem os textos
Improvisam amenidades
Um novo papel
A cada peça encenada
Apostam na popularidade
Para renovar a temporada

Quando finda a peça
A cortina se fecha
A atriz se abre aos aplausos
Recebe os afagos do público
Vai para casa esgotada

A arte pede, pede o povo
Que no dia seguinte
Como boa trabalhadora
Ela se levante
E comece tudo de novo

Quando finda o discurso
O microfone se fecha
O presidente recebe os aplausos
Leva os puxa-sacos
A jantar com a bancada

A política pede, não o povo
Que no dia seguinte
Como todo poderoso
Ele se levante
E comece tudo de novo

Mas os papéis se invertem
A atriz também discursa
Foi na festa de premiação
Desta vez, só falou verdades
Quando o microfone se fechou
Ainda mais o público aplaudiu
Uma verdadeira ovação
De emocionadas celebridades
E ela nem chorou

Como bom ator, o presidente
Fingiu que não ouviu
Depois, ao microfone,
Vaiou e acusou:
É superestimada, lacaia da oposição
Para ele, a atriz
Não deve ter opinião
Deve atuar e se restringir
Ao papel de mentir

A atriz ri
Consagrada
Porque sabe que na rua
Jamais será vaiada


            12/01/17

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