O
relógio da cidade
Marca
pontualmente
A
hora parada
A
hora do encontro dos namorados
A
hora de mais um pico do viciado
Foi
justo naquela hora
Que
a menina derrubou o sorvete
Que
a garçonete recebeu um bilhete
Amassou
sem ler
Poderia
ter mudado sua vida
Se
a hora não estivesse parada
Naquela
hora
Em
que o escritor começou
E
terminou
Mais
um conto
“Está
na hora de cortar a barba”
Pensou
o estudante
Enquanto
o viúvo
Tomava
mais um calmante
“Isto
não está certo”
Refletiu
a amante
Naquela
hora
Entre
dois beijos
Uma
culpa e um desejo
A
hora de um nascimento
E
de uma morte
Naquela
hora
Alguém
perdeu a virgindade
E
não achou grande coisa
Um
político iniciou um discurso
Outro
foi preso
Uma
garota ainda estava no ar
Após
o pulo da sua vida
Naquela
hora
O
músico soprou sua zamponha
Feito
um Pã caído dos Andes
Na
Boca Maldita
Uma
pomba mandou lembranças
A
um busto ilustre
A
travesti quebrou o salto
Elegantemente
descalça
Segurou
a sandália
Sobre
o ombro esquerdo
Era
a hora do menino cantar
Porque
queria gritar
Naquela
hora
Um
desejo escorria
Pelo
ralo da pia
O
poeta perdia
Mais
uma... rima
A
professora ensinava
Uma
nova utopia
O
funcionário pedia
Café
a Maria
O
operário chorava
O
patrão demitia
Outro
contratava
Naquela
hora
Entre
o nada e o tudo
A
Via Láctea pulsava em uma veia exangue
O
completo abraçava o inexistente
A
eternidade prévia do caos
Um
instante
Antes
do Big Bang
(16/02/17)
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