segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Grande sertão: Veredas secas

Nonada
Não foi tiro
Que matou a vereda
Foi obra mais trabalhosa
Que consumiu homens e anos

Tiriri, graúna, a faiscadeira, juriti-do-peito-branco,
Ou a pomba-vermelha-do-mato-virgem
Viram os carvoeiros
Os boiadeiros
Os boias-frias

Agora
Nessas paragens
Não têm mais os olhos
O buriti não responde mais
As veredas vão minguando
Até a chuva vai secando
A jataí foi engolida
Pela fenda do chão rachado

A agroindústria bebe toda a água que persiste
O sertão vai virar mar de soja
A área é rica
Dizem governo e fazendeiros
Enquanto o povo
Ou vai embora
Ou é engolido
Pela fenda do chão rachado
Feito a jataí

Onde antes jatobá fazia sombra
Riobaldo corta cana


            (13/02/17)

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